quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Carta a quem não existe.





Começo com um singelo olá.
Já se passam sete dias do começo da nova década – e que década acaba de se passar!-. Há tempos não nos vemos, mas resolvi mandar notícias do que anda acontecendo pra esses lados de cá. Na verdade, não tenho muitas novidades. Os campos continuam florescendo, cheios de ervas - daninhas para todos os lados, e minha janela – aquela que há muitos anos estava cultivando terra seca-, hoje perfuma toda a casa com seu cheiro inconfundível de lavanda recém plantada. É, a terra toda está umidecida por orvalho, e as pequenas flores da lavanda crescem sorrindo.
Todos estão crescendo sorrindo,aliás. Ás vezes me pego sentada na varanda observando as crianças correndo. Como são felizes essas pequenas alegrias que o mundo nos presenteia! Gosto de vê-las brincando de ser outra coisa qualquer que não somos. Confesso que isso é algo que me chateia. Em que momento da vida, deixamos de ser aquilo que éramos quando crianças? Você também pensa nisso, quando se deita na cama e não consegue dormir?
Ora, voltemos à varanda. Algumas vezes, enquanto observo as crianças correndo, as flores dançando com o vento, e consigo sentir o cheiro de terra molhada cortando minha pele, brinco de desenhar sonhos. Normalmente os que tive recentemente. Nunca fazem sentido, e é por isso que os desenho. Quem sabe um dia eu os entenda, em algum momento de louca lucidez...
É estranho como as pessoas se perdem ao longo da vida. Aqui estou eu, contando detalhes que no fim-das-contas, não servem de nada. Talvez eu não tenha nada melhor a contar. Continuo com aquela angústia de mais um ano correndo, e dessa vez, com novos planos para acompanhar o ponteiro do relógio. E você, por onde anda, depois de tantos verões sem notícias? Não me surpreenderia de ouvi-la dizer que se mudou para o Sri-Lanka para isolar-se de tudo e de todos. Penso que me falta coragem para ser assim.
Acordo alguns dias, com uma vontade semelhante à de morrer. Mas não por tristeza, por simples necessidade de viver, entende?
E devo dizer que por essa vontade de vida, que resolvi escrever essa carta. Sinto falta de resgatar aqueles pedaços –quase esquecidos- de vida que me foram consquistados, e que eu, sem nenhum cuidado, deixei partir. Você faz parte desse pedacinho de mim, que foi embora sem que eu pudesse perceber. E é através do perfume das flores, do sorriso das crianças que eu não sou, que tento te alcançar.
Espero obter resposta, mesmo que você, de fato não exista.
Um beijo com carinho.
L.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Nova Paisagem

O mundo lá fora estava andando parado. O compasso com que as folhas estavam sendo sopradas, parou o ponteiro do meu relógio, e eu me perdi na poeira do tempo.
Eu só estava ali, no meio da vida, esperando o dia nascer e acontecer na medida em que os minutos começaram a servir de alimento para as grandes mudanças.
De fato as mudanças começaram a acontecer. Muitos dias serviram de luz à minha janela, mas as nuances de cores continuavam as mesmas há muitos nasceres e pores desse sol.
Enquanto eu estava ali, observando o movimento do redondo das coisas, me questionava cada vez mais se estava caminhando na direção correta, apesar de não acreditar que exista um caminho correto a seguir.
Hoje, depois de alguns dias salpicados por emoções exacerbadas, consigo me encontrar com os olhos saltados e o corpo entregue ao que outrora me assustava.
Os ciclos estão deixando de se repetir, e não consigo mais prever o movimento do dia. Estou voltando meu rosto ao vento e permitindo que rasgue meus traços com sua intensidade absoluta.
Sinto meu peito em erupção e a terra vibra n meu espaço.
Finalmente me percebo em outra paisagem...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

"Ainda dá para construir castelos..."

Quando eu era pequena, achava que quando crescesse, iria fugir com um circo que passasse pela cidade procurando novas pessoas para a trupe. Afinal, meu apelido era “filhote de gnomo”, e eu acreditava que tal era uma dádiva para poucos. Acontece que eu fui crescendo, e junto à isto, fui deixando de ser um filhote de gnomo, e me tornei uma observadora e vivente do mundo, de uma forma que eu jamais imaginava, quando pensava em fugir com a trupe... Foram aparecendo tantos detalhes nos meus dias, tantas pessoas, tantas descobertas... e todas enormes! E eu ali, toda pequenininha tentando descobrir qual seria meu caminho quando então estivesse do tamanho de toda aquela gente. Uma coisa eu sabia: não queria ser adulta. Pelo menos não da forma que via as pessoas sendo. Todos gritavam muito, colhiam poucas flores, e, sobretudo, sorriam muito pouco. Era assim na minha casa. Mas eu não ligava. Vivia aprontando situações para fazer com que todos pudessem sentir o enlevo da vida como eu sentia, e é claro que não tinha consciência de nada disso,mas o fazia.
Foi então que percebi que minha cabeça não estava mais dentro do espelho do quarto. Conseguia enxergar as perninhas, fininhas, o corpo magrinho, e um pedacinho do queixo. Mas minha cabeça havia ido embora, para além do espelho... Foi então que eu senti que tinha passado por um processo de mudança, e que a partir daquele dia, tinha deixado de ser um gnomo...e como era triste! Tudo que eu tinha até então, era meu tamanho e meus sonhos... se eu começasse a crescer, me tornaria apenas mais uma!
De repente, era como se eu tivesse perdido todo aquele gosto de descobertas. Tinham me incluído em um mundo que eu não queria participar. Era frio, pesado. As pessoas não brincavam mais, brigavam. E eu fui fazendo parte disso, e aos poucos, fui deixando de colocar flores na orelha para enfeitar o rosto, de rabiscar papéis acreditando nos desenhos, de cortar roupas para vestir o mundo. Eu havia me tornado adulta,então? Não.
Comecei a me tornar compulsiva por tudo. E queria tudo, e sempre ao mesmo tempo. Queria ser patinadora, dançarina, musicista e poetisa. Mas queria naquele instante,e mais, queria ser a melhor. Mas eu desistia, talvez pela falta de espaço para voltar a acreditar nas minhas flores. É. Foi exatamente isso. Crescer me fez ter que assumir papéis que eu não queria, e ninguém me perguntou isso. Simplesmente me mandaram estar ali. E sorrindo sempre. E nem sempre era o que eu queria!
Posso dizer que comecei a me fechar para o mundo. Assim pensei por muito tempo, mas é claro que não foi o que aconteceu. Posso ter me fechado,sim. Mas foi para tudo o que estavam tentando me fazer ingerir e eu não queria. Eu me protegi, para que por dentro,continuasse a construir meus castelos, e dentro de mim eles podiam desmoronar, que eu mesma os construía novamente até que pudessem se sustentar. E foi o que aconteceu.
Descobri que a poesia das coisas era muito mais bonita que tudo o que tentavam sujar. Também percebi que eu não precisava impedir o mundo de ver os meus castelos,até porque eles eram parte do mundo! Foi então que eu descobri, dentro de tudo o que desmoronou, nasceu, renasceu, que existia no meu rosto a mesma flor que eu enfeitava a minha vida. E assim a deixei colorir todos os meus caminhos que começaram a se trilhar. Desse meu caminho eu não desisti, aliás, eu insisti. E insisto. E simplesmente porque é a vida mais linda que eu podia viver...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

E é inútil procurar encurtar caminho e querer começar já sabendo que a voz diz pouco, já começando por ser despessoal. Pois existe a trajetória, e a trajetória não é apenas um modo de ir. A trajetória somos nós mesmos. Em matéria de viver, nunca se pode chegar antes. A via-crucis não é um descaminho, é a passagem única, não se chega senão através dela e com ela. A insistência é o nosso esforço, a desistência é o prêmio. A este só se chega quando se experimentou o poder de construir, e, apesar do gosto de poder, prefere-se a desistência. A desistência tem que ser uma escolha. Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano. E só esta, é a glória própria de minha condição. A desistência é uma revelação.

C.L

É...
desistir ás vezes é a melhor saída.

quarta-feira, 22 de julho de 2009


"Dá-me a tua mão: Vou agora te contar como entrei no inexpressivo que sempre foi a minha busca cega e secreta. De como entrei naquilo que existe entre o número um e o número dois, de como vi a linha de mistério e fogo, e que é linha sub-reptícia. Entre duas notas de música existe uma nota, entre dois fatos existe um fato, entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam existe um intervalo de espaço, existe um sentir que é entre o sentir - nos interstícios da matéria primordial está a linha de mistério e fogo que é a respiração do mundo, e a respiração contínua do mundo é aquilo que ouvimos e chamamos de silêncio."


Clarice Lispector.
sempre na mesa de cabeceira.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Não sei como começar a dizer o que eu queria. Aliás, nem sei se quero dizer algo,mas sinto que preciso.
Tem alguma coisa que precisa sair. Um grito,talvez.Não. Uma palavra, duas, uma história,uma carta?
Estou me perdendo e não tenho me permitido a encontrar as respostas.
Não quero ouvi-las. É isso.

domingo, 19 de julho de 2009

Estou parada há algum tempo, só observando a forma como tudo se desenha.
Seus detalhes todos,a loucura lúcida de estar tão intimamente percebendo como tudo tem um sentido...